* Se precisar citar, tê-lo como referência, seguir:
DANTAS, Bárbara. "A abóbada de pedra e as folhas de hera: a Cantiga 65 das Cantigas de Santa Maria do rei Afonso X (século XIII)." In: SALVADOR GONZÁLEZ, José María (org.). Mirabilia Journal 38. Returning to Eden. Revaluation of the earthly world. From Antiquity to Ancien Régime, 2024/1, pp. 190-211. Internet: https://www.revistamirabilia.com/issues/mirabilia-38-2024-1/article/stone-vault-and-ivy-leaves-cantiga-65-cantigas-de-santa-maria e
Resumo: Este trabalho analisa o texto e a imagem da Cantiga 65 das Cantigas de Santa María do rei castelhano Alfonso com o objetivo de demonstrar como as abóbadas dos santuários medievais se relacionam com as folhas de hera e com o personagem principal desta Cantiga, um homem excomungado que viajou meio mundo para receber da própria Virgem a graça da redenção, além de vislumbrar a imortalidade da fé e da amizade em uma igreja abandonada, já coberta por vasta folhagem.
Palavras-chave: Cantigas de Santa Maria − Afonso X − Abóbada − Arte Medieval
Abstract: This work analyses the text and images of the Cantiga 65 of the Cantigas de Santa Maria by the Castilian king Afonso X with the aim of demonstrating how the vaults of medieval sanctuaries relate to the ivy leaves and the main character of this Cantiga, an excommunicated man who wandered across half the world to receive from the Virgin herself the grace of redemption, in addition to glimpsing the immortality of faith and friendship in an abandoned church, already covered by vast foliage.
Keywords: Cantigas de Santa Maria − Afonso X − Vault − Medieval Art.
Resumen: Este trabajo analiza el texto y la imagen de la Cantiga 65 de las Cantigas de Santa María del rey castellano Alfonso con el objetivo de demostrar cómo las bóvedas de los santuarios medievales se relacionan con las hojas de hiedra y con el personaje principal de esta Cantiga, un hombre excomulgado que viajó por medio mundo para recibir de la propia Virgen la gracia de la redención, además de vislumbrar la inmortalidad de la fe y de la amistad en una iglesia abandonada, ya cubierta con un vasto follaje.
Palabras-clave: Cantigas de Santa María − Alfonso X − Bóveda − Arte Medieval.
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I. Por uma nova abordagem da arte medieval
A História da Arte adentrou o século XXI em meio a uma crise existencial, na qual questionou as narrativas tradicionais e suas esferas de atuação. Os pesquisadores da arte medieval aderiram ao movimento no sentido de incluir diferentes fontes e, sobretudo, aderir a novas metodologias.[1] Nesse viés, os conceitos de autoria, estilo, periodização e movimentos artístícos perderam seus papeis centrais, assim como as pesquisas baseadas em distinções como centro/periferia, cujo marco foi a publicação, ainda em 1981, do artigo Domination symbolique et géographie artistique dans l’histoire del’art italien, escrito por Carlo Ginzburg (1939-) e Enrico Castelnuovo (1929-2014).[2]
Uma das novas metodologias para o estudo da História da Arte da Idade Média vem da História Global. Nela, as abordagens comparativas em diferentes escalas espaço-temporais oferecem a oportunidade de fugir de generalizações comumente associadas ao período medieval.[3] Baseada nas propostas da História Global, a perspectiva da História Conectada se coaduna com os objetivos de pesquisa que priorizam as conexões, as interdependências, as trocas e a mobilidade. Um dos fundamentos desse ponto de vista histórico-metodológico é a perspectiva que apresenta culturas visuais partilhadas entre grupos geográfica e/ou culturalmente diferentes entre si por meio da mobilidade de pessoas e de objetos. Enfatiza, igualmente, as trocas culturais e as conexões entre regiões distintas.[4]
Chega-se, então, na “relação entre imagem e história”, na qual se trabalha segundo a concepção de que a imagem é um documento histórico, uma fonte visual.[5] Peter Burke (1937-) e Jean-Claude Schmitt (1946-) estão entre os historiadores que defendem essa visão sobre as imagens: o primeiro, em relação a todas imagens que a humanidade já produziu e ainda produz;[6] o segundo, acerca das imagens medievais.[7] Na busca por uma melhor definição dos objetos imagéticos usados como fontes histórico-visuais, além de sugerir propostas metodológicas, o historiador cultural Ivan Gaskell (1955-) defende a implementação de uma História das Imagens.[8]
Embora não seja o foco principal deste artigo, a História Conectada permite uma abordagem sobre a Cantiga 65, na qual se destaca, de imediato, o fato do texto contar que um homem simples foi a Roma, a Antioquia e, por fim, à Alexandria em sua busca por redenção. Ele percorreu três continentes: a Europa, a Ásia e a África. Após muito vagar, ele chegou em uma igreja em ruínas, na qual a abóbada já estava coberta por densa vegetação. É a partir desse momento do relato de milagre que a iluminura historiada da Cantiga se apresenta, igualmente, como fonte histórica, ao narrar visualmente as experiências desse personagem no santuário abandonado de Alexandria.
Este artigo analisa a ligação entre as experiências de dois homens desafortunados com os princípios arquitetônicos e simbólicos que o texto da Cantiga 65 evidencia e a iluminura historiada revela imageticamente. Alusão ao “universo narrativo medieval” analisado pela medievalista Suzanne Lewis (1930-), em que texto e imagem se interpenetram, completam-se, pois são, ao mesmo tempo, autônomos e parceiros. Cada um ao seu modo, são relatos, ou narrativas. O primeiro utiliza uma “narrativa textual”; o segundo, uma “narrativa pictórica”, ou seja, “contar a história em imagens”.[9]
II. A Cantiga 65 e o milagre da Virgem em prol do excomungado
O rei Afonso X (1221-1284) cria no poder da Virgem Maria de se sobrepor ao mal. Por isso, ele mandou eruditos e artífices produzirem as Cantigas de Santa Maria, compêndio com mais de quatro centenas de relatos de milagres e louvores à Virgem, versificados em galego-português.[10] Iluminadores de livros enriqueceram sua oferenda com centenas de iluminuras e milhares de letras capitulares. Além disso, os versos foram acompanhados de notações musicais, labor que entregou a trovadores. Na obra, portanto, há três expressões artísticas: a Literatura, a Pintura e a Música. O mundo medieval está representado nas Cantigas, protótipo artístico de uma realidade plenamente vivida.
No relato de milagre da Cantiga 65, a paciência do bom clérigo com o homem rústico já se esgotava. Por todos os meios o religioso tentou encaminhá-lo para a vida de um fiel temente a Deus, mas, infelizmente, o religioso terminou por excomungá-lo. O rústico pouco caso fez da excomunhão até ficar doente. Porém, o clérigo faleceu e, a partir daquele momento, o homem se sentiu só e desamparado, pois tentou comungar e não lhe permitiram. Isso ocorreu porque o excomungado fora excluído da comunidade de fiéis, o que significava ser expulso do seu grupo social e se tornar um pária, um exilado. Então, ele começou sua procura por um homem santo que pudesse livrá-lo da excomunhão. Pediu ao prelado da aldeia, foi a Roma e vagou pelo mundo até chegar a Antioquia. Mas nenhum religioso teve piedade dele. Viajou ainda mais e alcançou a cidade de Alexandria, onde encontrou um homem considerado louco, mas que o recebeu. Decidiram pernoitar em uma igreja abandonada e, ao anoitecer, vislumbraram o semblante da Virgem, de santos e de anjos. Era tamanha a luz divina que o santuário se iluminou e a Virgem, tomada por plena misericórdia, retirou a excomunhão do homem. O amigo, então, confessa que era um rico nobre, mas quando sua família pereceu, ficou sem vontade de viver e se tornou um desgarrado. A partir daquela noite, a Virgem e seus companheiros celestiais os visitaram todas as noites, no decorrer de quinze dias, até que o amigo faleceu e, pelos milagres a ele atribuídos, consideraram-no santo. Desde aquele dia, o rústico se tornou o guardião do sepulcro de seu amigo, antes considerado louco.[11] Abaixo, o extrato da fonte revela em quais momentos do relato escrito do milagre aparecem referências a elementos arquitetônicos, cujo nosso interesse é a abóbada:
U entrava en hũa eigreja vedra, / mui ben feita tod' a boveda de pedra, / pero con velleçe ja cuberta d'edra, /que fora d'antigo lugar muit' onrrado.[12]
Entrou numa igreja antiga. / Mui bem-feita, toda com abóbada de pedra. / No entanto, pela velhice, estava coberta de hera. / Mas já foi lugar muito honrado (tradução: Bárbara Dantas).
A seguir, vejamos a iluminura de página inteira correspondente ao relato de milagre da Cantiga 65. A presença das duas formas de expressão artística, a literária e a visual, correspondem a um mesmo objetivo por diferentes meios, em que se nota a correspondência narrativa entre o desenrolar do texto e a ordenação visual de cada vinheta da iluminura. Na imagem 1, observa-se a narrativa visual das experiências divinas do homem excomungado a partir do momento em que chega na igreja em ruínas. A ordenação de cada vinheta acompanha a história contada de cima para baixo, da esquerda para a direita – assim como se faz com as histórias em quadrinhos.[13] Em uma palestra na qual analisou o lançamento do cinema mudo, Erwin Panofsky (1892-1968) considerou como precedente do cinema, dos cartuns e das comics o “mosaico” e os “livros iluminados” medievais, pois neles ocorreu tanto a “dinamização do espaço” quanto a “espacialização do tempo”.[14]
Imagem 1
Cantiga 65. Códice Rico. Cantigas de Santa Maria. Iluminura de página inteira. Fac-símile da Biblioteca da PUC-Minas. Arquivo pessoal.
III. A abóbada do santuário como materialização da abóbada celestial
Imagem 2
Vinheta 02 da Cantiga 65.
Conhecida como o céu do santuário, a “abóbada de pedra” da Cantiga 65 é a manifestação arquitetônica da relação analógica do homem medieval com os seres divinos: o céu do santuário terrestre como o céu celestial. Para o alto o homem temente a Deus deve sempre olhar, pois as graças divinas estão acima da realidade humana, estão na abóbada celeste.[15] De fato, Cícero (106-43 a.C.) revelou a origem do desejo da humanidade em contemplar o mundo acima nós:
A alma, embora de origem celeste, foi compelida e quase que precipitada na direção da terra, essa direção contrária tanto à eternidade como a sua natureza divina [...] De minha parte, creio que os deuses imortais infundiram as almas nos corpos humanos para que, de modo honesto e permanente, mediante a contemplação, imitem a ordem celeste.[16]
A ideia da abóbada de pedra remonta à visão da abóbada celeste, local onde os corpos estrelares encontraram suas moradas. Para os olhos menos experientes, as estrelas fazem parte de uma cacofonia, mas gregos e romanos nos ensinaram que céu rege com os astros uma eufonia perene e perfeita.[17]
IV. Do arco triunfal romano ao Românico
Imagem 3
Arco do Triunfo de Tito Lívio (59 a.C-17 d.C.). 70 d.C. Roma. Foto: J. C. Benoist.
A cobertura interior do teto com uso de pedra em formato de abóbada remonta ao período da Pax Romana do imperador Otávio Augusto (27 a.C-14 d.C.) e deve sua forma ao arco triunfal.[18] O arco triunfal romano era construído para comemorar a vitória de um chefe militar romano sobre outros povos: em um grande evento, com a presença popular e dos mais altos dignitários, o líder vitorioso percorria a rua principal da cidade e passava sob o arco erigido em homenagem a ele e a seu exército (imagem 3).
Imagem 4
Pantheon de Roma. Séc. I a.C. Arco e abóbada do altar. Foto: German Ramos, 2000.
O Pantheon de Roma (imagem 4) é um emblema ainda vivo daquela estética arquitetônica que migrou das ruas para o interior dos santuários. No século VII, os cristãos transformaram os edifícios pagãos em igrejas cristãs sem, contudo, alterar demasiadamente as formas primordiais das construções.[19] Foi da arquitetura romana que o românico retirou seus primordiais elementos.[20] Desde o século XI, os tetos abobadados dos santuários cristãos do Ocidente ganharam uma nova estética (a românica) para se diferenciar da estética romana. Na iluminura historiada da Cantiga 65 (rever imagem 1 e imagem 2) vemos em todas as vinhetas o que os especialistas nomearam como “abóbada de berço”.[21]
Não é consenso entre os especialistas, mas as primeiras manifestações arquitetônicas do românico estavam nas obras do Renascimento Carolíngio (780-900), movimento cultural e artístico promovido Carlos Magno (742-814), rei franco.[22] Desejoso de se tornar herdeiro do Império Romano-Cristão de Justiniano (482-565), Carlos Magno foi coroado imperador pelo papa e fundou o Sacro Império Romano Germânico no ano 800, no dia que se celebra o nascimento de Cristo, no Natal.[23]
Tanto na política quanto na Arquitetura, a relação da Roma Imperial Cristã com o Império almejado por Carlos Magno, paulatinamente, sucumbiu perante o andar dos tempos. A proximidade das novas referências da sociedade próxima ao primeiro milênio depois de Cristo fez o império de Carlos Magno se dissolver em reinos feudais. A “arte carolíngia” cedeu terreno à “estética românica”, menos antiga, mais medieval. No entanto, enquanto a sociedade feudal adquiriu um caráter fragmentário, o românico se tornou um movimento artístico universal.[24] Mesmo as variantes locais do românico não deixaram de lembrar sua fonte de inspiração arquitetônica e artística, e as construções românicas se alastraram pela Europa a partir do ano mil. Por meio de um observador atento daqueles tempos, o clérigo Raul Glaber (985-1050), sabemos que “era como se o mundo, tendo-se sacudido e lançado fora o antigo, se estivesse revestindo com a cândida veste das igrejas”[25]. Lewis associa a crescente produção de manuscritos iluminados a partir do século XI, com seu ápice no século XIII, à igualmente ativa construção de santuários em honra a santos para onde acorriam muitos peregrinos.[26]
Os santuários românicos mudaram as paisagens campestres e levaram a monumentalidade às cidades. A partir do século XI, as invasões bárbaras que afligiram a Europa nos primeiros séculos da Idade Média recuaram e uma maior estabilidade nas atividades cotidianas e de governos foi, finalmente, possível. Do século XI ao XIII, a expansão das áreas de cultivo e o incremento populacional foram apenas dois dos alicerces de uma sociedade em pleno desenvolvimento, tanto no campo quanto nas urbes.[27]
As cidades puderam se desenvolver, acumular a fortuna necessária para sustentar o ócio de seus intelectuais e investir na produção e construção de obras sacras. Pois, quanto melhor a oferta, maior a graça recebida. A crença girava em torno da ideia de que a riqueza material que Deus disponibilizou aos homens deveria ser transformada em ofertas, tanto de agradecimento quanto de honraria, àqueles santos que regiam o destino de cada homem. Nesse sentido, um extrato do texto da Cantiga 231 demonstra os altos valores gastos para erigir as igrejas na Idade Média:
Poren Costantin eigreja desta que beita seja fazia, grande sobeja, en que gran custa prendia. / E dava muytos dinneiros aos maestres pedreiros que lle trouxessen enteiros marmores de Romania, / os us pera altares, e outros pera piares; poren de muitos logares ali trage-los fazia.
Constantino, desse modo, fez a igreja da que Bendita Seja, grande sobeja, na qual dispendia grandes custos. / E deu muitas verbas aos mestres pedreiros para que lhes trouxessem mármores inteiros da România.[28] / Usava as pedras de mármore para os altares, e outras para os pilares; portanto, de muitos lugares, para ali as trazia (tradução: Bárbara Dantas).[29]
O homem medieval tentou alcançar a Salvação por meio da lumina vera das coisas perceptíveis, e da verum lumen imperceptível de Cristo.[30] Nesse viés, qual é o caminho para, no derradeiro dia, contemplar a Jerusalém Celeste? Em primeiro lugar, o bom cristão deve temer a Deus e possuir uma vida o mais próxima possível dos ideais propostos por Cristo. No entanto, como somos seres afeitos ao pecado, além de possuirmos alma que não é bela e perfeita como as dos santos, devemos reconhecer nossa falibilidade. Nesse aspecto, o monge cisterciense Bernardo de Claraval (1090-1153) nos alertou que “o conhecimento da própria fraqueza é mais útil para a salvação”[31].
Implorar o perdão de Deus devido às nossas falhas e fazer algo pela fé, algo que demonstre sua fidelidade e que não há limites para enobrecer o cristianismo. O abade Suger, novamente, presenteia-nos com suas ideias quando dissertou a respeito da disposição necessária para enriquecer a Abadia de Saint-Denis:
[...] esforçar-nos-íamos com todas as nossas possibilidades por nos consagrarmos ao trabalho e despesas [...] de alargar a igreja de nossa mãe [...] Deliberando sob a inspiração de Deus, optamos [...] por respeitar as verdadeiras pedras, que são sagradas como se fossem relíquias; [e] por tentar enobrecer o novo acrescentamento, que ia ser iniciado sob a pressão de tão grande necessidade, com a beleza da extensão e da amplidão.[32]
A apreciação do Abade Suger, para Erwin Panofsky (1892-1968), é uma filosofia, pois vai além de um simples diário, demonstra a espiritualidade, além do dispêndio de riquezas e de força laboral para a renovação de santuários na Idade Média.[33] E o tempo não tardou em avançar, pois ele não cessa seu caminhar. Este mesmo tempo vislumbrou o aperfeiçoamento das técnicas de “abobadamento” dos tetos, fruto de uma nova concepção que se erguia, a gótica.
V. A arquitetura gótica e as folhas de hera
Segundo o teólogo dominicano, conhecido como Durandus (c. 1230-1296), todos os elementos arquitetônicos do santuário possuem uma interpretação – ou função – religiosa. A exemplo da abóbada e das vigas, pois, para ele, simbolizam os pregadores que sustentam a espiritualidade da igreja.[34]
A abóbada de nervuras, um dos mais característicos elementos da arquitetura gótica, nasceu na Normandia, por volta dos anos 1220-1230, durante a reconstrução do teto da Catedral de Saint-Étienne de Caen (ver imagem 5 na próxima página), santuário que tinha uma estrutura ideal para aquele tipo de cobertura, pois sua nave central era alta e estreita. A abóbada de nervuras dessa catedral foi reconstruída em uma forma “sexpartida” (com seis panos), apoiada por um sistema de pilares e colunas adossadas. Os arquitetos mostraram que era possível abobadar seu teto por meio da alternância de suportes arquitetônicos.[35]
Imagem 5
Catedral de Saint-Étienne. Caen - França, c. 1220-30. Abóbada da nave central.
Foto: Chatsam, 2015.
Tudo é monumental na construção de uma catedral, a abóbada não era diferente. Cada seção (ou pano) da abóbada era construído separadamente. Sua enorme dimensão é definida pela superfície retangular dos quatro pilares que a sustentam. Uma nave central tinha, em média, de 06 a 08 “abóbadas de ogivas”. A imagem 6, reproduzida na página seguinte, mostra um desenho que sugere a enorme proporção dos trabalhos de construção de uma abóbada. Primeiro, a dimensão humana em relação à obra: somos seres pequenos, mas com uma criatividade gigantesca. Segundo, há um operário que está sobre a “chave da abóbada”, ponto central da abóbada de ogiva, local onde as forças de empuxo das estruturas arquitetônicas da abóbada se unem e a impedem de ruir.[36]
Recordemos que na imagem 1 todas as vinhetas da iluminura historiada de página inteira são emolduradas por elementos arquitetônicos: no alto, por arcos redondos românicos (ou abóbodas de berço) cobertos por uma espécie de folhagem comum em lugares abandonados. Sabe-se que o tempo e a falta de cuidados permitem à natureza retomar seu lugar majoritário no mundo e dominar as construções humanas, como nos contou o já citado extrato do texto da Cantiga 65: “no entanto, pela velhice, estava coberta de hera. Mas já foi lugar muito honrado”.
A Hera (Hedera helix) é um tipo de vegetação na qual seus ramos se entrelaçam e enlaçam seus suportes.[37] Simbolicamente, a folha de Hera remonta sua importância à Antiguidade Grega e, na Idade Média, simbolizou as relações de amizade e a imortalidade. Ademais, esse tipo de vegetação ganhou um papel na estética gótica por seu “formato trilobado”.
Imagem 6
A construção dos panos da abóbada ogival.[38]
O formato da Hera se associa com uma das mais emblemáticas formas do gótico medieval, a forma pela qual o movimento artístico, normalmente, é reconhecido. Para dar mais valor a esta afirmativa, vejamos as figuras e fotografia que compõem a imagem 7: desenho de uma folha de Hera; o detalhe da iluminura da Cantiga 65 com os ramos da trepadeira; e uma fotografia do “arco trilobado quebrado” do portal do Mosteiro de Batalha (1388-1533), em Portugal.
Imagem 7
No sentido horário: Folha de hera; Portal gótico; Detalhe da iluminura.
LAROUSSE, 2006, p. 1291; arquivo pessoal; Flickr, 2004.
Na Cantiga 65, a folha de Hera é o símbolo da amizade entre o rústico homem e o nobre que enlouqueceu de tristeza, mas, por intercessão da Virgem, “passou a ser chamado de santo”. A folhagem também simboliza a imortalidade, pois tanto a alma do pio nobre quanto o santuário construído em suas terras se tornaram imortais pelas mãos da Virgem, dos anjos e dos santos que ali estavam, e “todo o lugar foi iluminado”.
Conclusão
Na arte medieval é comum a presença de referências que vêm da natureza. Mesmo a arquitetura possui essa característica, a exemplo da relação entre a abóbada com o céu ou do arco trilobado com a folha de hera. O céu é a morada dos seres celestiais, como a Virgem e os santos. E a folha de hera representa o que é perene, que nunca morre, logo, é imortal. Na junção da abóbada e da folha de hera promovida pelas iluminuras de página inteira da Cantiga 65, nota-se a relação entre o desejo do arquiteto em transformar o teto do santuário em uma abóbada celeste e a imortalidade da construção, representada pelas mesmas abóbadas cobertas pela densa folhagem.
Foi sob essa cobertura, ao mesmo tempo, humana e divina, que dois homens desafortunados se encontraram e puderam dividir o peso de suas falhas e tristezas. Tamanha foi a piedade que envolveu esse encontro de desvalidos que a Virgem e alguns santos se apresentaram aos dois e concederam a um o fim da excomunhão e a outro uma alma imortal após sua morte. Apesar de folhas, abóbadas de pedra, um homem rústico e outro louco pareçam elementos diferentes, todos se conectam nesse universo criado pela fé de Afonso X no poder da Virgem Maria.
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VALDEZ DEL ÁLAMO, Elizabeth. The Iconography of architecture. In: HOURIHANE, Colum. The Routledge Companion to Medieval Iconography. London: Routledge, 2016, pp. 378-389.
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[1] QUÍRICO, Tamara; TATSCH, Flavia Galli. Apresentação do Dossiê: “Medievos e Medievalidades a partir de uma História da Arte Global”. In: Revista Signum, v. 23, n. 2, 2022, p. 7.
[2] CASTELNUOVO, Enrico; GINZBURG, Carlo. “Domination simbolique et géographie artistique.” In: Sociologie de l’oeil. Actes de la Recherche en sciences Sociales, v. 40, 1981, p. 51.
[3] SILVA, Marcelo Cândido da. “Uma História Global antes da Globalização? Circulação e espaços conectados na Idade Média”. In: Revista de História da USP, n. 179, 2020, pp. 6-7.
[4] ALMEIDA, Néri de Barros. “Uma História Conectada do Mediterrâneo na Idade Média”. In: Website do IFCH da UNICAMP, ementa, 2023.
[5] GRILLO, José Geraldo Costa; TATSCH, Flavia Galli. Apresentação ao Dossiê “Imagens e História da Arte Antiga e Medieval”. In: Revista Diálogos Mediterrânicos, n. 10, junho/2016, p. 10.
[6] BURKE, Peter. Testemunha ocular: história e imagem. Bauru-SP: EDUSC, 2004.
[7] SCHMITT, Jean-Claude. O corpo das imagens: ensaios sobre a cultura visual na Idade Média. São Paulo: EDUSC, 2007.
[8] GASKELL, Ivan. “História das imagens”. In: BURKE, Peter (org.). A escrita da história. Novas perspectivas. São Paulo: UNESP, 1992, pp. 235-271.
[9] LEWIS, Suzanne. “Narrative”. In: RUDOLPH, Conrad. A companion to Medieval Art: Romanesque and Gothic in Northern Europe. Oxford: Blackwell, 2006, p. 86.
[10] Já nos debruçamos em muitas outras oportunidades sobre essa importante fonte medieval do rei Afonso X, o Sábio: 1) COSTA, Ricardo; DANTAS, Bárbara. “A falssidade dos judeus é grand: uma representação de judeus nas Cantigas de Santa Maria (séc. XIII)”. In: Atas do X Encontro internacional de estudos medievais (EIEM) da Associação brasileira de estudos medievais (ABREM) - Diálogos ibero-americanos. Brasília: ABREM/PEM-UnB, 2013, p. 507-514; 2) DANTAS, Bárbara. “Des oge mais quer' eu trobar pola sennor onrrada: a iconografia e os motivos arquitetônicos nos textos das Cantigas de Santa Maria”. In: Anais do XVI Simpósio Regional de História da ANPUH. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), 2014, p. 316-328; 3) COSTA, Ricardo; COVRE, Bárbara. “Cantigas de Santa Maria de Afonso X: Análise comparativa entre texto e imagem da cantiga 04”. In: FERREIRA, Álvaro Mendes et al (org.). Problematizando a Idade Média. Niterói: Ed. UFF/PPGHISTÓRIA, 2014, p. 16-34; 4) DANTAS, Bárbara. “A música nas Cantigas de Santa Maria”. In: IV Semana de pesquisa em música da Faculdade de Música do Espírito Santo – FAMES. In: Revista de Pesquisa em Música da FAMES, v. 6, n. 6 (jul/dez 2014). Vitória - ES: DIO/ES, 2015, p. 13-19; 5) COSTA, Ricardo; DANTAS, Bárbara. “Ao som do passarinho: o monge e o tempo nas Cantigas de Santa Maria (séc. XIII)”. In: TEIXEIRA, Igor Salomão (org.). Reflexões sobre o medievo IV: Estudos sobre hagiografia medieval. São Leopoldo: Oikos, 2014, p. 123-133; 6) COSTA, Ricardo; DANTAS, Bárbara. “A Arquitetura Sagrada e a Natureza nas Cantigas de Santa Maria”. In: SANTOS, Bento Silva (org.). Mirabilia 20. Arte, Crítica e Mística, Barcelona, Institut d’Estudis Medievals, UAB, 2015/1, p. 44-65; 7) COSTA, Ricardo da; DANTAS, Bárbara. “No sermon mui gran gente que y era: os frades pregadores nas Cantigas de Santa María (séc. XIII)”. In: ALVES, Aléssio Alonso (org.). Ordens religiosas na Idade Média (sécs. XII-XV): concepções de poder e modelos de sociedade. Belo Horizonte: LEME/UFMG, 2015, p. 21-43; 8) COSTA, Ricardo da; DANTAS, Bárbara. “Bondade, Justiça e Verdade. Três virtudes marianas nas Cantigas de Santa Maria e no Livro de Santa Maria, de Ramon Llull”. In: SALVADOR GONZÁLEZ, José María (org.). Mirabilia Ars 2. El Poder de la Imagen. Ideas y funciones de las representaciones artísticas. Barcelona: Institut d’Estudis Medievals, UAB, 2015/1, p. 84-103; 9) DANTAS, Bárbara. “Santiago de Compostela e as igrejas-fortificações: uma análise da Cantiga 26 das Cantigas de Santa Maria de Afonso X”. In: Revista do Colóquio, 2017, n. 13, v. 7, p. 20-29; 10) DANTAS, Bárbara. “A Arquitetura nas Cantigas de Santa Maria”. In: SALVADOR GONZÁLEZ, José María; SILVA, Matheus Corassa da (orgs.). Mirabilia Ars 6, 2017/1. Special Edition; 11) DANTAS, Bárbara; COSTA, Ricardo da. As Artes do Rei. As Cantigas de Santa Maria de Afonso X. Vila Velha-ES: Balsamum, 2017; 12) DANTAS, Bárbara. A Arte de Construir: a Arquitetura nas Cantigas de Santa Maria do rei Afonso X. Vila Velha-ES: Balsamum, 2018; 13) DANTAS, Bárbara. “Angelus ou O toque da Virgem: a Música nas Cantigas de Santa Maria (séc. XIII) do rei Afonso X”. In: RIBEIRO, Antonio Celso, COSTA, Ricardo da (orgs.). Mirabilia 27. Music in Middle Ages and Early Modernity, 2018/2, p. 19-38; 14) DANTAS, Bárbara. “O mosteiro e a função social da arquitetura religiosa: a Cantiga 45 das Cantigas de Santa Maria do rei Afonso X (século XIII)”. In: SALVADOR GONZÁLEZ, José María; SILVA, Matheus Corassa da (org.). Mirabilia Ars 10, 2019/1, p. 45-58; 15) DANTAS, Bárbara. “Huelva, o islã e o triunfo da Virgem Maria: Arquitetura nas Cantigas de Santa Maria de Afonso X”. In: CORTIJO, Antonio; MARTINES, Vicent (orgs.), Mirabilia / MedTrans 11, 2020/1, p. 34-50; 16) DANTAS, Bárbara. “As ordens religiosas e as aedificationes nas Cantigas de Santa Maria de Afonso X”. In: SILVA, Matheus Corassa da (org.). Mirabilia Ars 13, 2020/2, p. 26-56; 17) DANTAS, Bárbara. “Soissons: a pedra edifica a fé mariana (a Cantiga 53 das Cantigas de Santa Maria de Afonso X)”. In: COSTA, Ricardo da (org.). Mirabilia Journal 32, 2021/1, p. 153-166; 18) DANTAS, Bárbara. “Capitel: escultura ou arquitetura? A Cantiga 93 das Cantigas de Santa Maria de Afonso X (séc. XIII)”. In: MERLO, Patricia M. S. et al (org.). Anais do XIII Encontro Estadual de História da ANPUH-ES: negacionismo, verdade e fazer histórico. Volume 2. Vitória: Editora Milfontes, 2021, p. 55-78.
[11] Cf. resumo em inglês da Cantiga 65 em: ALFONSO X. Excommunicate Absolved by Foolish Servant of Mary. The Oxford Cantigas de Santa Maria Data Base. 2024.
[12] ALFONSO X, el Sabio. Cantigas de Santa Maria. Edición crítica de Walter Mettmann. Vol. 1. Madrid: Castalia, 1986, p. 219, versos 125-128.
[13] DANTAS, Bárbara. “Contar histórias: o anacronismo e as imagens historiadas”. In: Revista ArteContexto, v. 9, 2016, s/p.
[14] PANOFSKY, Erwin. “Style and medium in the motion pictures”. In: TALBOT, Daniel. Film: Anthology. New York, 1934, pp. 18, 24.
[15] FRANCO JÚNIOR, Hilário. Os três dedos de Adão: ensaios de mitologia medieval. São Paulo: Editora da USP, 2010, p. 98.
[16] CÍCERO. A velhice saudável (De Senectude). (trad.: Luiz Feracine). São Paulo: Escala, 2006, p. 69.
[17] PULS, Maurício. Arquitetura e filosofia. São Paulo: Annablume, 2006, p. 55.
[18] JIMÉNEZ MARTÍN, Alfonso. Saber ver a arte etrusca e romana. São Paulo: Martins Fontes, 1992, p. 21.
[19] LE GOFF, Jacques. A civilização do Ocidente medieval. Bauru-SP: Edusc, 2005, p. 108.
[20] “Estes mestres, agora como antes impregnados de uma tradição viva das técnicas romanas de pedreiro e de construção de pedra.” – TOMAN, Roman. O Românico: arquitetura, escultura e pintura. Colônia: Könemann, 2000, p. 80.
[21] VALDEZ DEL ÁLAMO, Elizabeth. “The Iconography of architecture”. In: HOURIHANE, Colum. The Routledge Companion to Medieval Iconography. London: Routledge, 2016, p. 382.
[22] Ver alguns extratos de fontes documentais do período em: ESPINOSA, Fernanda. Antologia de textos históricos medievais. Lisboa: Sá da Costa, 1972, pp. 149-156.
[23] TOMAN, Roman. O Românico, op. cit., p. 74.
[24] “A autoridade que Carlos Magno tenta restaurar só pode sancionar um estado de fato: isto é, que o poder, anteriormente concentrado em um lugar certo, expressão de uma vontade determinada, não existe mais. Só reinam os poderes locais.” – PERNOUD, Régine. Idade Média, o que não nos ensinaram. São Paulo: Linotipo Digital, 2016, p. 99.
[25] RODULFI GLABRI. “Historiarum Libri Quinque.” lib. III, cap. IV. In: MIGNE, J. P. Patrologie Cursus Completus. Series Latina, t. CXLII. Paris, 1880, col. 651.
[26] LEWIS, Suzanne. “Narrative”, op. cit., p. 93.
[27] “A produção cresceu em virtude de uma maior quantidade de mão-de-obra (incremento demográfico) trabalhando sobre uma área mais extensa (desbravamento de florestas e terrenos baldios).” – FRANCO JÚNIOR, Hilário. A Idade Média: nascimento do Ocidente. São Paulo: Brasiliense, 2004, p. 39.
[28] Província do Império Bizantino, cuja capital era Adrianópolis. ALFONSO X, el Sabio. Cantigas de Santa Maria. Edición crítica de Walter Mettmann. Vol. 3. Madrid: Castalia, 1989, p. 695.
[29] Ibid., Vol. 2, pp. 304.
[30] “Incapaz de alcançar a verdade sem o auxílio do que é material, a alma será guiada pelas ‘verdadeiras’, embora meramente perceptíveis, ‘luzes’ (lumina vera) dos relevos resplendentes, para a ‘Verdadeira Luz’, que é Cristo (verum lumen); e será, assim, ‘elevada’, ou melhor, ‘ressurrecta’ (surgit, resurgit) da sujeição terrestre, como Cristo é visto na Ressurrectio vel Ascensio retratada nas portas.” –PANOFSKY, Erwin. Significado nas artes visuais. São Paulo: Perspectiva, 1976, p. 174.
[31] BERNARDO DE CLARAVAL. Sermão sobre o conhecimento e a ignorância (trad.: Jean Lauand). Website Ricardo da Costa.
[32] ABBÉ SUGER. Euvres Complètes de Suger. Ed. e anot. de A. Lecoy de la Marche. Paris: Société de l’Histoire de France, 1867. Gallica - Biblioteca Nacional da França. 2007.
[33] PANOFSKY, Erwin. Significado nas artes visuais, op. cit., p. 167; “A História da Arte é parente próxima da filosofia e da estética, da qual é inseparável.” – PRESSOUYRE, Louis. “Histoire de l'art et iconographie” In: BALARD, Michel. Actes des congrès de la Société des historiens médiévistes de l'enseignement supérieur public, 20ᵉ congrès, Paris, 1989. L'histoire médiévale en France. Bilan et perspectives. Paris: Seuil, 1991, p. 247 (tradução: Bárbara Dantas).
[34] VALDEZ DEL ÁLAMO, Elizabeth. The Iconography of architecture, op. cit., p. 379.
[35] TOMAN, Roman. O Românico, op. cit., p. 236.
[36] MACAULAY, David. Construção de uma catedral. São Paulo: Martins Fontes, 1988, pp. 54-55.
[37] HEDERA HELIX. Oxford Plants 400. University of Oxford. 2024.
[38] MACAULAY, David. Construção de uma catedral, op. cit., p. 54.
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