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A PESQUISA EM HISTÓRIA E ARTE EM TEMPOS DE PANDEMIA

 

O crescimento da pós-graduação no Brasil nas duas últimas décadas promoveu um aumento quantitativo e qualitativo da pesquisa no campo da história sociopolítica, da história da arte e da historiografia, nas diferentes regiões. Isso permitiu revitalizar, analisar e inserir na historiografia da arte e da cultura contextos e produções de localidades periféricas do país, sendo que até muito recentemente tais estudos mantinham-se restritos ao eixo Rio/São Paulo. Essa nova realidade tem possibilitado retirar do esquecimento uma diversidade de temas, artistas, artesãos, movimentos, eventos e instituições culturais, que antes permaneciam inteiramente ignorados e desconhecidos. Permitiu, ainda, atenuar o preconceito atribuído a determinadas produções que, por essas e outras razões, permaneceram à margem das pesquisas das acadêmicas, tais como: as imagens fotográficas, a arte e a cultura popular, a produção das mulheres, das populações indígenas e afrodescendentes, a arquitetura vernacular dos bairros periféricos, entre tantas outras nuances dos estudos culturais.

 A mudança do paradigma artístico, a partir dos anos de 1960, fez com que a arte se hibridizasse e se ampliasse a gama de suportes, meios, processos, que modificariam tanto a maneira de compreender e dialogar com o objeto artístico, quanto o próprio conceito de obra e de artista. A destruição causada pela II Guerra e pelos regimes totalitários ampliou tanto a preocupação quanto a criação de leis visando a preservação da memória e do patrimônio sócio-artístico-cultural. Em contrapartida, nascia também, o questionamento aos monumentos erigidos aos heróis pátrios e personalidades do mundo sociopolítico, cujas representações mostram em sua grande maioria homens brancos e ricos, cujas memórias empanam, muitas vezes, ações pouco condizentes com sua mitificação. As catástrofes causadas pela agressão ao meio-ambiente, que atingem diretamente as populações mais vulneráveis, dificultando o acesso à água e aos alimentos básicos, têm mobilizado intelectuais e jovens artistas de todo o mundo na realização de atos, imagens e campanhas em prol da conscientização pelo direito à vida. Em razão do Brasil e de grande parte dos países do Cone Sul, terem sido submetidos, na mesma época, a regimes militares autoritários, muitos jovens artistas fizeram das respectivas produções criativas uma forma de resistência crítica à falta de liberdade e à repressão, recorrendo a processos e linguagens criativas em que a ideia prevalecia sobre o resultado, como meio de burlar a censura.

A arte estreitava cada vez mais sua relação com a vida, o que fez com que muitos artistas contemporâneos optassem por sair dos redutos privados dos ateliês para atuar nos espaços alternativos de ruas, praças, galpões ou mesmo locais abandonados ou degradados, evocando a participação ou a parceria do público na produção de ações políticas de natureza efêmera, que prescindiriam das instituições culturais, então, cerceadas e controladas pelos órgãos de repressão. No caso específico do nosso país, após a redemocratização a própria instituição cultural precisou se reinventar. Assim, de reduto conservador, elitizado, seletivo e judicativo passaria a diversificar seus serviços visando propiciar condições para o acesso de todos os indivíduos à arte e aos bens culturais, independentemente de faixa etária, classe social ou formação, oferecendo-lhes subsídios para compreenderem e dialogarem mais efetivamente com objetos criativos de diferentes tempos, territórios e linguagens.

No momento atual, quando o país e o mundo de deparam com um problema sanitário que já dizimou milhões de vidas e privou-nos da liberdade de ir e vir e da convivência com nossos entes queridos, e que não nos permite vislumbrar, ainda, um desfecho alvissareiro em curto prazo, produzir, fruir e pesquisar sobre arte e cultura, tem se revelado, acima de tudo, um excepcional antídoto para nos mantermos vivos e mentalmente saudáveis.  Por essa razão, nem o isolamento dos artistas e pesquisadores os privou de se manterem atuantes e produtivos, em tempos tão difíceis e sombrios. É o que revela o conjunto diversificado de reflexões resultantes de pesquisas realizadas em sua maioria por jovens mestres e doutorandos, aos quais agradecemos a presteza com que atenderam à nossa chamada.  A diversidade de temas e pontos de vista sobre diferentes produtos criativos estudados por pesquisadores capixabas e de outras regiões brasileiras, representados neste e-book, ampliam a visão de que a arte rompe fronteiras e não envelhece, porque se re(codifica) e rejuvenesce a cada nova visada, também não prioriza ou hierarquiza temas, imagens, faturas, linguagens, para se desvelar como um exercício de liberdade e de alteridade.   

 

[1] Almerinda da Silva Lopes, é doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC de São Paulo, com bolsa sanduíche pela Universidade de Paris I; pós-doutorado em Ciências da Arte pela Universidade de Paris I. Atua nos Programas de Pós-graduação em Artes (PPGA) e em História (PPGHIS), na Universidade Federal do Espírito Santo. É pesquisadora de Produtividade do CNPq. Autora de vários livros e outras publicações em História da Arte Moderna e Contemporânea.

Momentos da História, Visões da Arte - Volume 1

SKU: BDSO-EB000005
R$ 0,00Preço
    • Título: Momentos da História, Visões da Arte

    • Organizadoras: Almerinda da Silva Lopes & Bárbara Dantas

    • Autores: Adriane Schrage Wächter, Adriano Morais de Freitas Neto, Almerinda da Silva Lopes, Ana Carolina Machado Arêdes, Ana Rita Cesar Lustosa, Anderson Diego da S. Almeida, Bárbara Dantas, Elyane Lins Corrêa, Ivânia Cristina Lima Moura, Jéssica Galon da Silva Macedo, João Augusto da Silva Neto, Lindomberto Ferreira Alves, Ludimila Caliman Campos, Mariana Garcia Vasconcellos, Maria Rita Guercio, Patrícia Guimarães Pinto, Rita Mychelly dos Santos Salles, Sérgio Rodrigues de Souza, Tamara Silva Chagas

    • Editora: Balsamum

    • Ano da edição: 2021

    • Volume: 01

    • Número de páginas: 331

    • Formato: PDF

    • ISBN: 978-65-80766-05-5

    • Assunto: História da Arte

    • Idioma: Português

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