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Projeto Museu na Escola: Sabia que você tem um museu?

Atualizado: 5 de out. de 2022

Bárbara Dantas

Renan Andrade[2]


*Se precisar citar, tê-lo como referência, seguir:

ANDRADE, Renan; DANTAS, Bárbara. Projeto Museu na Escola: sabia que você tem um museu? Museu de Arte do Espírito Santo-MAES. Vitória. 2012. Disponível em: https://www.barbaradantas.com/post/projeto-museu-na-escola-sabia-que-voc%C3%AA-tem-um-museu


Baixe o PDF da publicação aqui.


Resumo:

A sociedade brasileira é pouco afeita ao costume de ir a museus. Os cidadãos que vivem nas regiões periféricas das grandes metrópoles sequer sabem da existência de algumas destas instituições que abrigam, promovem e disseminam a arte e a história. No entanto, Vitória, a capital de nosso estado, tem alguns museus que estão de portas abertas para a população sem custos de entrada. Dessa forma, decidimos criar um projeto que levasse o museu até esse público. Assim, surgiu o Projeto Museu na Escola. Este trabalho mostrará nossas atividades e propostas entre os anos de 2009 e 2011 dentro do Projeto. Compartilharemos, principalmente, o espaço ofertado ao público como meio condutor de uma realidade na qual a valorização do patrimônio, da cultura e da história sejam impulsionadores de um salto para uma nova realidade social. Não fomos às escolas somente para falar aos alunos, fomos conversar com eles.


Palavras-chave:

Patrimônio. Museu. Arte. História.

Resumen: la sociedad brasileña no es acostumbrada a visitar museos. Los ciudadanos que viven en las zonas periféricas de las grandes ciudades siquiera saben de la existencia de algunas de estas instituciones que abrigan, promueven y difunden el arte y la historia. Sin embargo, Victoria, la capital de nuestro Estado, tiene algunos museos que se encuentran com sus puertas abiertas para las personas sin ninguno costo para el ingresso. Por lo tanto, hemos decidido crear un proyecto para llevar el museo al público. De ese modo, surgió el Proyecto Museo en la Escuela. Este trabajo muestra nuestras actividades y propuestas entre los años 2009 y 2011 dentro del Proyecto. Compartiremos, especialmente el espacio del museo ofertado al público como un medio conductor para una realidad en la cual la apreciación del patrimonio, la cultura y la historia son los impulsadores de un salto a una nueva realidad social. No fuimos a las escuelas sólo para hablar a los estudiantes, fuimos hablar con ellos.


Palabras clave: Herencia. Museo. Art. Historia.


Abstract: Brazilian society is not very fond of going to museums. Citizens who live in the peripheral regions of the great metropolises do not even know of the existence of some of these institutions that shelter, promote and disseminate art and history. However, Vitória, the capital of our state, has some museums that are open to the public with no entrance costs. In this way, we decided to create a project that would take the museum to this public. So, the Museum Project at School started. This work will show our activities and proposals between the years of 2009 and 2011 within the Project. We will mainly share the space offered to the public as a means of conducting a reality in which the valuation of heritage, culture and history are the drivers of a leap to a new social reality. We did not go to the schools just talk to the students, we went to talk with them.


Keywords: Patrimony. Museum. Art. History.


1. Nossas propostas


“Processo educativo, cultural e científico, articulado de forma indissociável ao ensino e à pesquisa e que viabiliza uma relação transformadora entre a universidade e a sociedade”[3] O Projeto Museu na Escola tentou (nos dois anos de sua existência, 2009-2011) valorizar e articular cada um destes aspectos: a ciência, a cultura e a educação.



Figura 1: Emblema e folder do projeto.


A partir da ciência: por meio da parceria entre a Universidade Federal do Espírito Santo - UFES (professores/orientadores) e o Museu de Arte do Espírito Santo - MAES (Setor de Arte Educação), formulamos uma pesquisa que tem como base metodológica e teórica os conceitos ligados à Museologia, História e Educação Patrimonial. Submetemos nossa proposta às avaliações dos professores/orientadores, à equipe do museu, em evento acadêmico (ANPOF, Ouro Preto, 2011), ao público do MAES e da UFES antes de chegarmos ao nosso principal público alvo: as escolas. Tudo isso, para termos uma sólida base teórica, metodológica e discursiva enriquecedora para o público escolar.


Encontro com a cultura: A Ciência é um excelente suporte, mas não responde a muitos questionamentos mais individuais e emocionais. Antes de tudo, precisávamos “tocar” o sentimento do público. Para isso, olhamos para nós mesmos, para nossa carga cultural, para nosso entorno. Devíamos deixar aflorar nossa alteridade: olhar para o próximo sem pré-conceitos ou preconceitos. Porque este Projeto seria falho se chegássemos às escolas como meros transmissores de conhecimentos e passássemos nosso recado a ouvintes silenciosos; retornando para nossas casas com um (errado) sentimento do dever cumprido.


Na Educação Patrimonial encontramos o suporte necessário para um discurso no qual as experiências do público têm espaço ao transformar nossa atuação não em uma palestra, mas em uma conversa. Uma atividade onde o público pudesse interagir conosco expondo suas experiências junto ao meio social em que vivem, com o próximo, com o diferente, com a natureza e com o afeto.


Educação Informal: conteúdo pronto, discurso afinado e equipamento em mãos, chegamos às escolas. Ao termo de cada atividade, descobrimos que nosso conteúdo foi influenciado pela troca de experiências durante as nossa estada nas escolas. Cada turma foi uma surpresa. Adaptamos nosso discurso ao perfil delas, presenciamos falas importantes de alunos considerados indisciplinados e de outros que nunca se expressavam. Ficamos emocionados com relatos de memórias dolorosas na Oficina de Memória, bem como de desenhos e textos magníficos.


Dessa forma, afirmamos com propriedade que o público escolar tem muito o que dizer. Basta ter alguém para ouvi-los. Este mesmo público tem muita vontade de aprender, só precisa de alguém para ajudá-los. A interação do público escolar conosco foi o principal legado do Projeto.


2. Um retrato da realidade


Os museus da contemporaneidade têm um novo perfil. É uma instituição que agrega o máximo de vivências e parcerias educacionais em prol do seu público. Procura, dessa forma, sanar as deficiências de incentivo à cultura presentes em grande parte do nosso país. Este novo papel dos museus convive com uma realidade cultural que convive com uma estrutura social ineficaz e deficitária. Os números são desalentadores, para os 5.560 municípios brasileiros:


- 78% deles têm pelo menos uma biblioteca;

- 44% têm uma banda de música;

- 17% têm um museu;

- 19% têm um teatro ou casa de espetáculo;

- 7,5% têm uma sala de cinema e apenas 6% têm uma orquestra;

- Somente 13% possuem um Conselho Municipal de Cultura, sendo que desses, apenas metade tem periodicidade frequente ou muito frequente (IBGE, 2005).


3. Nossas atividades e público alvo


A temática escolhida para compor o projeto para o MAES em 2009 foi “A história dos museus e educação patrimonial”. Renan Andrade e Bárbara Dantas - então, monitores de público - sentiram uma carência de informações prévias tanto do corpo discente quanto do docente nos grupos de escolas que visitavam regularmente o museu. Notou-se, especialmente, a falta de capacitação por parte dos professores com relação a conceitos importantes ligados aos museus, suas práticas e sua história. No entanto, identificamos também uma sede de conhecimento por parte dos alunos, só lhes faltavam oportunidades.


As palestras realizadas no projeto aludem, principalmente, para o papel do museu na sociedade em formação - os estudantes de ensino fundamental e médio. Tentamos transmitir o conhecimento necessário para a criação de um cidadão convicto do seu papel perante os bens culturais existentes ao seu redor. Isto auxilia o processo de inclusão sociocultural dos mesmos (GANZER, 2005).


Idealizamos o Projeto Museu na Escola como uma ferramenta de aproximação entre as instituições museu e escola. Formar e informar o ensino das artes e da história. Valorizar a ideia do espaço do museu como um bem cultural e educacional público, ou seja, aberto a todos. Tentamos, também, trazer para os limites da individualidade os conceitos mais gerais de patrimônio e de identidade cultural.


Procuramos uma abordagem lúdica e rica visualmente. Os tipos de museus existentes fizeram parte de nosso conteúdo por meio de alguns exemplos mais conhecidos da realidade nacional e, principalmente, estadual, como: o Museu Regional, o Museu Casa, entre outros. Até chegarmos ao Museu de Arte do Espírito Santo - Dionísio Del Santo.


Figura 2: Slide da palestra. Imagem de Dionísio Del Santo, artista capixaba que dá nome ao museu. Ao lado, marca do MAES.


O ponto forte de nossa atuação nas escolas foi a Oficina de Memória, atividade proposta por nossa orientadora, a profa. Gilca Flores do NCR, Núcleo de Conservação e Restauração da UFES. Para ela, não cabe a nós chegarmos nas escolas com um discurso pronto e decorado, precisamos, acima de tudo, dar voz ao público escolar. Assim, após a palestra, conversamos com os alunos a respeito de suas realidades na tentativa de incluir no diálogo alguns conceitos e realidades que abordamos na palestra.


A partir dessa conversa, sugerimos aos presentes desenhar ou escrever algo importante em uma folha cedida por nós. Nela, o aluno registra o que gostaria de guardar em uma "caixa do tempo" que será aberta somente em um futuro distante. Um registro do que mais gostava de ter ou fazer, de sentimentos conflitantes, da leitura que o aluno faz do mundo ao seu redor.


E tivemos muitas surpresas...


Abaixo, inserimos alguns dos mais exemplares testemunhos registrados em nossas Oficinas de Memória:


Figura 3: Pedra dos dois olhos, um dos marcos geográficos da região, considerada um patrimônio da comunidade. Abaixo, um pedido para se preservar a Gruta da Onça.

Figura 4: Medalhas. O esporte como um bem a ser preservado.


Figura 5: “abrigar, conservar, expor: museu” como registrado acima. Sua boneca é um bem precioso. Abaixo, a Terceira Ponte, ligação entre as cidades de Vitória e Vila Velha.


Figura 6: Em cima, a aluna considera o MAES, o santuário Convento da Penha, a pintura Monalisa, a montanha O Frade e a Freira e o Palácio Anchieta como patrimônios importantes.

Abaixo, a aluna do 9o ano considera seu bem mais valioso a lembrança da primeira vez que viu o pai adotivo. O computador é motivo de uma reverência profunda em outro registro estudantil, uma crítica voraz.


Figura 7: Não é somente a panela de barro que é patrimônio, mas a sua receita, a matéria prima, o seu modo de ser feito e a comunidade que vive em torno de sua produção.


Ao cabo de nossas atividades nas escolas, chegamos aos seguintes dados quantitativos: atendemos 07 escolas da rede estadual pública de ensino fundamental e médio. Cerca de 1.270 pessoas fizeram parte de nossos trabalhos, incluindo a palestra e a Oficina de Memória.


4. Um pouco de nosso conteúdo


A seguir, mostraremos um pouco do que abordamos em nossas palestras nas escolas: o significado etimológico da palavra museu, sua história e seus tipos (ICOM, 2009). Por fim, a exposição de alguns conceitos importantes a respeito de educação patrimonial. Afinal, o MAES é um espaço público e pertence a cada um dos que participaram do projeto. Espaço público e à espera da visita de seus mantenedores.


As musas do museu


Figura 11: Slide da palestra. As musas da mitologia grega.


As musas, na mitologia grega, eram filhas de Zeus e Mnemosine, a divindade da memória. Eram deusas que personificavam e presidiam o pensamento em todas as suas formas. Cada musa tinha a capacidade de inspirar a criação artística ou científica (DETIENNE, 1988). No Egito de Ptolomeu I, no século IV a. C., o mouseion de Alexandria abrigava esculturas, instrumentos cirúrgicos e astronômicos, pedras e minérios de terras distantes.[4]


Patrimônio da humanidade


Figura 12: slide da palestra. Museus no Brasil.


Somente a preservação da cultura viva guarda de forma integral as suas manifestações: materiais e imateriais. Os objetos museais são fragmentos de uma cultura e ajudam a contar a história de uma comunidade, de um país, de uma etnia. A ampliação da ideia de museu e de patrimônio acarretou grandes modificações nas exposições de diversos museus. Mais do que coletar, estudar e manter coleções de objetos artísticos, históricos ou científicos, os museus se voltaram para a preservação das referências patrimoniais das diversas sociedades.


A curiosidade nos gabinetes


Figura 13: slide da palestra. Gabinetes de curiosidades. Colecionar e expor.


Os homens ricos sempre tiveram tempo e dinheiro para viajar. Ainda no séc. XVI, destas viagens, trouxeram aos seus palácios ou castelos todo tipo de objeto de importância histórica ou artística do local que visitavam. Salas foram especialmente construídas para abrigar a infinidade destes objetos, tais como: fragmentos arqueológicos, empalhados, pinturas, esculturas, entre outros. Estas salas são conhecidas como gabinetes de curiosidades devido à variedade de objetos expostos em um mesmo ambiente (SCHNEIDER, 2009, p. 157).


O museu de Oxford


Figura 14: slide da palestra. Ashmolean Museum. Museu aberto ao público.


Elias Ashmole (1617-1692) foi um ávido colecionador. Quase no fim de sua vida, doou a maioria dos objetos raros e exóticos que adquiriu para a Universidade de Oxford. Também doou a sua coleção de livros e manuscritos. O Ashmolean Museum, museu da Universidade de Oxford, tornou-se o primeiro museu do mundo aberto ao público ainda no séc. XVII.


A história nas igrejas


Figura 14: slide da palestra. Idade Média: preservação da cultura clássica greco-romana.


Na Idade Média - ao contrário do que se pensa - muitos nobres, intelectuais e clérigos admiravam e apoiavam a cópia, compilação e realização de obras filosóficas, históricas e artísticas. Os castelos, mosteiros e igrejas medievais abrigavam grandes coleções de obras valiosíssimas para a História e para a Arte.


O museu revolucionário


Figura 16: slide da palestra. O Louvre abre suas portas.


Após a Revolução Francesa de 1789, a população bradava os ideais de Igualdade, Fraternidade e Liberdade. Nada mais democrático, portanto, do que dispor ao público a visita a um local no qual pudessem admirar obras de arte. Até então, este privilégio era dado somente aos nobres e à realeza. Assim o Louvre foi inaugurado em 1750, mas somente em 1793 foi aberto ao público.


Tipos de museu


Figura 17: slide da palestra. Tipos de museus.


- Museu clássico: Museu Imperial, Petrópolis- RJ.

- Museu de território: Museu de Biologia/professor Melo Leitão, Santa Tereza-ES.

- Museu regional: o Museu do Colono, Santa Leopoldina-ES.

- Museu casa: Museu Casa de Santos Dumont, Petrópolis-RJ.

- Museu de Arte: MAES, Vitória-ES.


Dentre os tipos de museu temos os que abrigam obras de arte como o Museu de arte do Espírito Santo. De acordo com seu regimento interno, a instituição:


Pretende ser um espaço de apresentação e discussão das artes visuais, contemplando tanto a produção da tradição artística como a arte contemporânea, através de exposições, mostras, cursos, seminários, palestras e outras atividades pertinentes à área; Garantir acesso às artes visuais ao público em geral, explorando as potencialidades museológicas nos processos de inclusão sociocultural; Desenvolver e colaborar com o desenvolvimento de projetos que promovam o envolvimento e a participação da comunidade em geral e do público visitante (SECULT, 2008).


Patrimônio


Figura 18: slide da palestra. De onde vem o patrimônio?


A fim de enfatizar as relações patrimoniais com a difusão dos bens culturais, um dos cenários propostos e institucionalizados é o museu.[5] Nele, evidencia-se o material produzido pelo homem e por seu meio. No museu pode-se, também, compreender suas ações e projeções de pensamento aliado ao termo cultura: o ser humano, por ser racional, é um ser cultural. Logo, sua forma de agir e pensar gera cultura, modos de produção, manifestações culturais, tais como a moda, música e arte. Todas elas dão sentido à existência do homem.


A origem etimológica da palavra cultura remonta ao final do século XVIII no termo germânico kultur, simboliza os aspectos espirituais de uma comunidade. Já a palavra francesa civilization referia-se, principalmente, às realizações materiais de um povo, até que, por fim, esse termo foi sintetizado (BELTRÃO, 2002).


Edward Tylor (1832-1917), um dos primeiros pensadores da antropologia, designou à palavra inglesa culture, em seu sentido etnográfico, todos os “conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes adquiridos pelo homem inserido na sociedade” (LARAIA, 2001).


Apesar dessa classificação geral, é importante frisar que o termo cultura variou em função de épocas e sociedades diferentes. Ainda no conceito antropológico, cultura é um comportamento aprendido e que independe da transmissão genética. Considerando que a mente humana é uma caixa vazia por ocasião de nascimento, o homem produz, a partir daí, uma forma específica para se adaptar ao meio ambiente.


Essa atitude envolve a produção de conhecimento e técnicas que são apreendidas e transformadas por cada geração. Pode-se comparar a isso o avanço tecnológico, que na maioria das vezes, é um desdobramento do conhecimento produzido por técnicas anteriores e pelo processo histórico. Portanto, a cultura do homem abarcará tudo que caracteriza uma população humana. Compreende o testemunho do homem e seu meio, dá significado aos bens culturais (IEPHA-MG, 2009).


Numa escala de comunidade até a de humanidade, a soma dos bens culturais de um povo abarca o sentido de patrimônio, contém valores que serão legados a gerações futuras. Esses bens culturais podem ser divididos em naturais e culturais que, por sua vez, se divide em materiais e imateriais.


Os bens naturais independem da ação do homem e agregam o meio ambiente, composto pelos rios, matas, grutas, etc. Enquanto que os bens culturais imateriais compreendem as tradições e técnicas “do fazer” e do “saber fazer” humanos e as manifestações individuais e coletivas, tais como o folclore, a religião, a música, a dança.


Por fim, os bens culturais materiais, se dividem em móveis e imóveis. Móveis englobam a produção pictórica, escultórica, o mobiliário, objetos de utensílio, entre outros. Imóveis definem os edifícios e seu entorno, que garante visibilidade e referência de um povo e lugar.


Imprescindível destaque é o fato de que nem todo conteúdo da cultura que está envolvido na noção de cultura material. A cultura se exprime na matéria, mas pode ser definida como a relação do homem com a matéria.


Cultura preservada se torna patrimônio. Historicamente, a palavra está ligada à noção de herança, de memória do indivíduo, dos bens de uma família. Mas a ideia de patrimônio comum a um grupo social, definidor de sua identidade e merecedor de proteção nasce no final do século XVIII (BABELON; CHASTEL, 1980). Para além dos ideais iluministas, motivou-se impedir o vandalismo causado por alguns períodos mais conturbados da revolução Francesa (GRAMMONT, 2006).


A ideia de nação dessa época garantiu o estatuto ideológico do conceito de patrimônio, no qual o Estado deve assegurar a preservação de seus bens culturais, pois definem-no. A partir daquele contexto, estabeleceram-se práticas que ampliaram o circuito dos colecionadores e apreciadores de antiguidades e, também, criou-se exposições, edição de catálogos, venda pública de obras, entre outras iniciativas (FONSECA, 1997).


Atualmente, a definição de patrimônio cultural se dá por toda produção humana - de ordem emocional, intelectual, material e imaterial - que proporcione o conhecimento e a consciência do homem sobre si mesmo e sobre o mundo que o rodeia (IPHAN, 2006). Também é plausível definir o termo tombamento como:


O conjunto de ações realizadas pelo poder público com o objetivo de preservar, através da aplicação de legislação específica, bens móveis ou imóveis de valor histórico, cultural, arquitetônico, ambiental e também de valor afetivo para a população, impedindo que venham a ser destruídos ou descaracterizados, contribuindo, dessa forma, para o reforço da identidade local (IPHAN, 2006).


Ao cabo, discutimos o valor cultural de um bem e a importância de sua preservação. O foco reside em sua capacidade de estimular a memória das pessoas historicamente vinculadas à sua comunidade e sua contribuição na garantia da preservação da sua identidade cultural na busca por uma melhor qualidade de vida. A preservação do patrimônio implica no bem estar material e espiritual do indivíduo e possibilita o exercício da cidadania.


A preservação garante a continuidade das manifestações culturais.


5. Conclusão


Esta equipe interdisciplinar - união da arte com a história, além de conceitos das áreas de Patrimônio e Museologia - atuou de forma lúdica e com um discurso que obtivesse do público uma situação de pertencimento e afinidade com as questões levantadas na palestra e na Oficina de Memória. Formação de uma visão da realidade circundante além dos limites sociais impostos, por vezes, por uma situação nada acalentadora. Ver nas escolas, instituições irradiadoras de conhecimento às crianças e jovens, uma forma de favorecer a inclusão sociocultural das mesmas.


Por meio de pesquisa qualitativa do Setor de Arte Educação do MAES com alunos e professores que visitam o museu junto a grupos de escolas, constatou-se a falta de informação prévia sobre a instituição e sobre a exposição visitada, o que dificulta a interação com as obras de arte e o entendimento da proposta dos artistas. Com isso, nossas atividades visaram dar, inicialmente, um breve panorama da história dos museus no Ocidente e mostrar os tipos de museus existentes.


A parceira do MAES (Museu de Arte do Espírito Santo) com a UFES (Universidade Federal do Espírito Santo) elaborou um projeto direcionado aos estudantes do ensino fundamental e médio das escolas. Tentamos mostrar como o museu pode ser um ambiente rico não só de cultura, mas de história e – por que não?! – de diversão.


Ao termo do ano 2011, data final de nosso projeto, os sentimentos foram contraditórios: ao mesmo tempo, a sensação de dever cumprido, mas, sobretudo, um vazio. A avaliação final nos mostrou que a demanda por cultura nas crianças e jovens vão além do que as propostas de nosso projeto puderam suprir. As necessidades sociais e econômicas dos estudantes e professores são tão alarmantes que falar a respeito de cultura e conseguir tocar seus corações é uma tarefa hercúlea, mas possível. Basta o incentivo certo. E desviaremos nossos olhares da realidade para um outro lugar: aquele das musas, o mouseion, local onde a mente e o coração pode vaguear por lugares outros, mais serenos e contemplativos.


5. Referências


BABELON, Jean-Pierre; CHASTEL, André. La notion de patrimoine. Paris: Liana Levi, 1994. (1ª Ed. Revue de l’Art 49, 1980).

BELTRÃO, Ana Raquel. “Patrimônio Cultural: novas fronteiras”. Prim@ Facie - ano1, n. 1, jul/dez 2002.

CADERNO de diretrizes museológicas. I. Brasília: Ministério da Cultura/ Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional/ Departamento de Museus e Centros Culturais, Belo Horizonte: Secretaria de Estado da Cultura/ Superintendência de Museus, 2006. 2º Edição.

COMO GERIR UM MUSEU. Curso à distância. Belo Horizonte: ICOM, 2009.

DETIENNE, Marcel. Os mestres da verdade arcaica. Rio de Janeiro: Zahar, 1988.

FONSECA, Maria Cecília Londres. O patrimônio em processo: trajetória da política federal de preservação no Brasil. Rio de Janeiro, UFRJ/ Iphan, 1997.

GANZER, Adriana Aparecida. Museu, Educação e Cultura: Turbilhão de sentimentos e imaginações: as crianças vão ao museu, ou ao castelo. Campinas: Papirus, 2005.

GRAMMONT, Ana Maria de. “Opiniones y ensayos, la construción del concepto de Patrimonio Historico: restauración y cartas patrimoniais.” PASOS: revista de Turismo y Patrimonio Cultural, vol. 4, n. 003, Universidad de La Laguna, La Laguna, España, 2006. p. 437 – 442.

IEPHA-MG. “Sobre cultura e patrimônio cultural”. Disponível em: http://www.iepha.mg.gov.br/sobre-cultura-e-patrimonio-cultural. Acesso em 20/11/2009.

LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 2001.

LEMOS, Deise Maria Oslegher. Regimento Interno do Museu de Arte do Espírito Santo. Secretaria de Estado da Cultura. Vitória: SECULT, 2008.

SCHNEIDER, Norbert. Naturezas-mortas. Colônia: Taschen, 2009.

SUANO, Marlene. O que é museu. São Paulo: Brasiliense, 1986.


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Notas:

[2] Graduado em Artes Plásticas e mestrando em História da Arte pela (UFES). Atualmente é diretor do MAES.

[3] Ver em: http://www.proex.ufes.br/

[4] “O mouseion era, então, esse local privilegiado, onde a mente repousava e onde o pensamento profundo e criativo, liberto dos problemas e aflições cotidianas, poderia se dedicar às artes e às ciências” (SUANO. 1986).

[5] Na definição do Conselho Internacional de Museus (ICOM), tem-se esse espaço como “estabelecimento permanente, sem fins lucrativos, a serviço da sociedade e de seu desenvolvimento, aberto ao público, que coleciona, conserva, pesquisa, comunica e exibe, para o estudo, a educação e o entretenimento, a evidência material do homem e seu meio ambiente”.


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