Ricardo da COSTA[1]
Bárbara DANTAS
* Se precisar citar, tê-lo como referência, seguir:
COSTA, Ricardo da; DANTAS, Bárbara. “Bondade, Justiça e Verdade. Três virtudes marianas nas Cantigas de Santa Maria e no Livro de Santa Maria, de Ramon Llull.” In: SALVADOR GONZÁLEZ, José María (org.). Mirabilia Ars 2 (2015/1). El Poder de la Imagen. Ideas y funciones de las representaciones artísticas. Barcelona: Institut d’Estudis Medievals, UAB, Jan-Jun 2015, p. 84-103. Disponível em: https://www.barbaradantas.com/post/afonso-x-ramon-llull-e-as-tr%C3%AAs-virtudes-marianas e https://www.ricardocosta.com/artigo/bondade-justica-e-verdade-tres-virtudes-marianas
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Resumo: As Cantigas de Santa Maria são um marco cultural na Espanha medieval. Esta magnífica obra do século XIII é composta por 420 louvores e relatos de milagres da Virgem Maria escritos em galego-português, além de centenas de iluminuras. Patrocinada pelo rei Afonso X (1221-1284), é grandiosa não apenas por seu valor artístico, mas, sobretudo, pelo seu valor histórico. Registrou em cada cantiga diferentes aspectos da sensibilidade medieval. O objetivo desse trabalho é fazer uma análise comparativa (imagética e textual) de três virtudes filosófico-teológicas da Virgem Maria – Bondade, Verdade e Justiça – presentes no Louvor 140 das Cantigas de Santa María e no Livro de Santa Maria (c. 1290) do filósofo catalão Ramon Llull (1232-1316), para discorrermos sobre as estruturas simbólicas da espiritualidade mariana, típica manifestação religiosa e artística do séc. XIII no Ocidente Medieval.
Palavras-chave: Virtude; louvor; Virgem Maria.
Resumen: las Cantigas de Santa Maria es un referente cultural en la España medieval. Esta magnífica obra del siglo XIII se compone de 420 alabanzas y informes de los milagros de la Virgen Maria escritos en gallego-portugues, más allá de centenas de iluminaciones. Patrocinado por el rey Alfonso X (1221-1284), es grande no sólo por su valor artístico, pero sobre todo por su valor histórico. Registrou en cada canción aspectos diferentes de la sensibilidad medieval. El objetivo de este trabajo es realizar un análisis comparativo (imágenes y texto) de tres virtudes filosóficas y teológicas de la Virgen Maria - Bondad, Verdad y Justicia - presente en la alabanza 140 de las Cantigas de Santa Maria y en el Libre de Sancta Maria (c 1290) del filósofo catalán Ramón Llull (1232-1316), para hacermos una discursión acerca de las estructuras simbólicas de la espiritualidad mariana, manifestación religiosa y artística típica del siglo XIII en el Occidente Medieval.
Palabras clave: Cantigas de Santa Maria – Alfonso X – Libre de Sancta Maria – Ramon Llull – Iluminuras – Arte Medieval.
Abstract: the Cantigas de Santa Maria is a cultural landmark in medieval Spain. This magnific work of the thirteenth century is composed of 420 praises and narratives of miracles of the Virgin Mary and written in galician-portuguese language. Furthermore, have hundreds of miniatures. Sponsored by king Alfonso X (1221-1284), is not great only for its artistic value, but, specially, for its historical value. Each song registred differents aspects of medieval sensibility. Thus, the objective of this study is to make a comparative analysis (textual and imagistic) of three philosophical-theological virtues of the Virgin Mary – Goodness, Truth and Justice – present in the praise 140 of the Cantigas de Santa María and in the Libre de Sancta Maria (c. 1290) from the Catalan philosopher Ramon Llull (1232-1316), to analyze the symbolic structures from marian spirituality, typical religious and artistic manifestation of the thirteenth century in the Medieval West.
Keywords: Cantigas de Santa Maria – Alfonso X – Libre de Sancta Maria – Ramon Llull – Enluminures – Medieval Art.
I. Difusão
Alegria e Força. Fé e Esperança. Júbilo. Energia pulsante. Amor. Esses são os primeiros sentimentos quando escutamos a Cantiga 140 de Afonso X, o Sábio (1221-1284). Somados à melodia, que se desenvolve de modo staccato (o que aumenta a sensação de vigor e robustez de sua devoção mariana), os instrumentos de percussão repercutem efusivamente a boa-nova: o louvor à Nossa Senhora. Isso porque a propagação da intercessão mariana foi, no século XIII, a grande novidade que atravessou, como um frisson extático, toda a Cristandade europeia.[3]
A força da melodia da Cantiga parece indicar o vigor com que os medievais cantaram seu amor à Maria. Mas essa devoção não se restringiu às canções. O historiador britânico Kenneth Clarke (1903-1983) já nos alertou: a devoção à Maria parece ter “nascido” artisticamente em Chartres (a catedral foi reconstruída em 1194) para, a seguir, se espalhar por todas as construções catedralícias europeias.[4] Antes de Chartres, inexistiam igrejas dedicadas à Nossa Senhora. A partir de então, a devoção à Mãe de Deus se propagou por todo o Ocidente medieval.
Imagem 1: portal central do transepto norte da Catedral de Chartres, França (1204-1230).
Maria no tremó, pilar divisório entre os portais. Acima da imagem de Maria, no dintel, são retratadas sua morte (à esquerda) e Assunção (à direita).[5] Sua escultura a representa de um modo sereno, soberano, com o menino Jesus em seu braço esquerdo. Com o direito, ela o envolve, delicada e amorosamente. A suave languidez da túnica proporciona uma grande leveza ao personagem. Foto: Brian Holihan.
Louvor 140
A Santa Maria dadas sejan loores onrradas
À Santa Maria sejam consagrados honrados louvores
Loemos a sa mesura, / Louvemos sua moderação,
seu prez, e ssa apostura, / seu valor e sua gentileza,
e seu sen, e ssa cordura, / seu senso e sua cordura,
mui mais ca cen mil vegadas. / muito mais que cem mil vezes.
Loemos a ssa nobressa, / Louvemos sua nobreza,
sa onrra e ssa alteza, / sua honra e sua majestade,
sa mercee e ssa franqueza, / sua misericórdia e sua generosidade,
e sas vertudes preçadas. / e suas apreciadas virtudes.
Loemos sa lealdade, / Louvemos sua lealdade,
seu conort' e ssa bondade, / seu consolo e sua bondade,
seu accorr' e ssa verdade, / seu socorro e sua verdade,
con loores mui cantadas. / cantadas com muitos louvores.
Loemos seu cousimento, / Louvemos sua discrição,
conssell' e castigamento, / seu conselho e sua justiça,
seu ben, seu enssinamento, / seu bem, seu ensinamento
e sass graças mui grãadas. / E suas mui generosas graças.
Loando-a, que nos valla, / Louvá-la para que nos socorra,
lle roguemos na batalla / rogamos-lhe na batalha
do mundo que nos traballa, / contra o mundo que nos tortura
e do dem' a donodadas. / e contra o diabo, valorosamente.
Esse despertar mariano na Arte, na Arquitetura, nas iluminuras e esculturas, não só brotou do âmago da religiosidade popular, mas também entre os letrados. Bernardo de Claraval (1090-1153) foi um dos primeiros a chamar a atenção para a graça concedida à Maria, donzela escolhida por Deus, ardentemente desejada por Ele, amada mais do qualquer outra criatura.[6] A terra festeja, diz Bernardo. Todos cantam louvores a Ela. Em Na Natividade de Santa Maria (O Aqueduto, 1), Bernardo declarou:
Jubiloso, o céu celebra a presença da Virgem fecunda, e a terra festeja sua memória. Ali reina o bem em toda a sua plenitude, aqui possuímos a recordação; ali, saciedade, aqui as primícias da libação; ali a coisa, aqui o nome. “Senhor”, diz a Escritura, “teu nome é eterno, e tua memória, de geração em geração”.[7] Estas gerações não são de anjos, mas de homens. Queres tu uma prova que temos um nome e sua memória, e o céu possui sua presença? Orai dessa maneira: “Pai nosso que estás nos céus, santificado seja o Teu nome.”[8]
II. Conquista e louvor
Na Península Ibérica não seria diferente. Eram tempos de expansão. Conquista. Reconquista. Do séc. VIII ao XV, a península foi palco de inúmeras batalhas entre cristãos e muçulmanos. Em retaliação à invasão islâmica no território dominado então pelos visigodos, os cristãos, sempre que conseguiam juntar a força de um líder militar a um exército forte, marcharam contra os mouros para recuperar suas terras.[9] No séc. XIII, a hegemonia dos cristãos nos territórios da Península Ibérica já era evidente. O domínio mouro, a partir da conquista de Sevilha (1246), restringir-se-ia – precariamente – ao reino de Granada.[10]
Afonso foi um dos grandes incentivadores do culto mariano. Ordenou a edificação de catedrais consagradas à santa; coordenou a tradução de relatos de milagres da Virgem do latim para a língua vernácula, além de compilá-los nos belíssimos manuscritos iluminados das Cantigas de Santa Maria (1281-1284).[11] Nesta magistral compilação de relatos de milagres e louvores, a santa é representada com o menino Jesus no colo, envolve-o carinhosamente. Entronada e coroada, suas vestes têm o panejamento de formas leves e naturais. Sua expressão, sempre doce, convida os crentes a abrirem seus corações e suas angústias à sua intercessão a favor dos homens junto a Jesus Cristo, seu Filho e Deus.[12]
Imagem 2: detalhe da iluminura da Cantiga 140.
Nossa Senhora abraça o Cristo crucificado. Ele sangra. Ela sofre. Entrementes, Ela fita o grupo de homens à direita da cena. Suas capas, chapéus pontiagudos e narizes aduncos entregam sua origem: são judeus. Desdenhosos e arrogantes, eles apontam para Maria e comentam seu gesto. Indiretamente, são acusados da morte de Jesus, pois, à esquerda, outro judeu porta a lança utilizada para o golpe de misericórdia nas costelas do crucificado.
O culto à Maria cresceu paralelamente a uma nova expressão artística, o gótico, considerado um dos primeiros movimentos artísticos universais, pela amplitude de suas proporções geográficas e cronológicas, ou seja, toda a Europa cristã, entre os séculos XII e XV.[13] O gótico não se restringiu às manifestações iconográficas, já que nele o homem medieval representou tanto a si quanto a seu meio e suas crenças de uma forma mais naturalista e racional, embora sem nunca opor-se à fé.[14] A ligação entre o terrestre e o celeste tornou-se mais sólida. Mais amorosa. Glamorosa. A Virgem Maria foi o emblema artístico mais representativo daquela nova era. Como mãe carinhosa e misericordiosa, toda a Cristandade passou a ser protegida e abrigada sob seu manto.
Nas Cantigas, Maria é a principal figura celestial na luta contra o mal. Doce, mas resoluta, suave, mas determinada. Para os medievais, Ela enfrentava o diabo em socorro àqueles que caíssem na tentação dos vícios. Salvava as almas quase perdidas que, caso não fossem suas súplicas, seriam conduzidas ao Inferno. Afonso, como devoto fervoroso, reiteradamente pediu a intercessão da Virgem como sua advogada espiritual junto ao seu Filho Jesus Cristo pelo perdão de seus pecados e pela salvação de sua alma: Reỹa chamada, Filla, Madr' e Criada; e poren nos dev' ajudar, ca x' é noss' avogada.[15]
Imagem 3: Virgem com o Menino de Sainte-Chapelle (c. 1260-70) Museu do Louvre, Paris. Marfim com traços de policromia, 41 x 12,40 cm.
As esculturas medievais, como as do mundo clássico, eram pintadas. Caso o provedor da obra não fosse rico o suficiente para utilizar a rica matéria-prima nos acessórios e nas bordas dos mantos, estes eram pintados em dourado ou engastados com vidro colorido para imitar a rica beleza do ouro e das pedras preciosas. Desde o séc. XII, as esculturas da Virgem com o Menino passaram a ser esculpidas de um modo menos hierático e vertical. Mais naturais e curvilíneas.[16] Aqui a Mãe de Deus brinca com seu Filho. O menino sorri ao receber dela uma bola (e alguém já disse que na Idade Média não se podia sorrir!). O esplendor da obra em marfim, o fino entalhamento, as feições suaves, os detalhes em dourado das vestes, tudo faz com que essa obra seja, como a própria Sainte-Chapelle (1246-1248),[17] um brinco gótico do tema mariano.
Os registros das notações musicais, além do desejo testamental de Afonso X, mostram que as Cantigas de Santa Maria foram produzidas para serem cantadas durante as principais festividades do calendário cristão, especialmente nas festas associadas ao culto mariano. Em procissão, os fiéis deveriam entoar em júbilo os louvores e exaltar os milagres da santa, sempre acompanhados pelo ritmo dos instrumentos tocados pelos trovadores.[18] Virgem conquistadora, seu nome passou a ser exaltado em todos os reinos cristãos: Notre Dame, no francês; Nuestra Señora, no espanhol; Nostra Signora, no italiano; Our Lady, no inglês; Nossa Sennora, no galego-português.[19] O galego-português, inclusive, foi a poética língua escolhida por Afonso X e seus colaboradores para a produção de toda sua obra literária. Dentre elas, a que mais se destaca são as Cantigas de Santa Maria.[20]
III. Bondade, justiça e verdade
Como se pode perceber em nossa tradução do Louvor 140,[21] dezesseis são as virtudes marianas que a mensagem enaltece: 1) moderação, 2) gentileza, 3) cordura, 4) nobreza, 5) honra, 6) majestade, 7) misericórdia, 8) generosidade, 9) lealdade, 10) consolo, 11) bondade, 12) socorro, 13) verdade, 14) discrição, 15) conselho, e 16) justiça. Gostaríamos de relacioná-las a uma obra do filósofo catalão Ramon Llull (1232-1316), o Livro de Santa Maria (c. 1290),[22] texto concluído menos de dez anos após a redação das Cantigas de Santa Maria de Afonso X.
O objetivo do Livro de Santa Maria é louvar, honrar, pregar, amar e conhecer a Virgem Gloriosa Mãe de Deus, e assim fazer com que as pessoas possam falar umas com as outras a seu respeito e serem iluminadas por suas bondades, grandezas, bem-aventuranças e virtudes. Assim, o filósofo propõe apresentar trinta virtudes inerentes à Virgem (que chama de princípios) para criar uma “doutrina de louvor e pregação a Maria”. São estas: 1) bondade, 2) grandeza, 3) perseverança, 4) poder, 5) sabedoria, 6) amor, 7) virtude, 8) verdade, 9) glória, 10) graça, 11) santidade, 12) justiça, 13) misericórdia, 14) beleza, 15) virgindade, 16) valor, 17) humildade, 18) senhorio, 19) honra, 20) fé, 21) esperança, 22) continência, 23) paciência, 24) piedade, 25) consolação, 26) pobreza, 27) esmola, 28) obediência, 29) ajuda, e 30) alvorecer. Há virtudes marianas que são compartilhadas pelos dois documentos.
Por seu valor primordial, decidimos relacionar três: a Bondade, a Justiça e a Verdade. Como a Virgem é Boa, o filósofo define o que é a Bondade: aquilo pelo qual se faz o Bem, que é o próprio ser (enquanto a maldade é o não-ser). Livro de Santa Maria (c. 1290), cap. I.
Nossa Senhora é tão boa que Deus deseja que ela faça o bem a seu povo, bem que ela faz porque é boa, pois assim como temos a propriedade de ver porque temos olhos, e temos a propriedade de entender porque temos entendimento, do mesmo modo Nossa Senhora tem a propriedade de fazer o bem porque é boa. Portanto, assim como é inconveniente e impossível que o homem que tem olhos não veja, ou não entenda apesar de ter o entendimento, do mesmo modo e muito mais ainda é impossível e inconveniente que Nossa Senhora não faça o bem, pois é boa, e que não faça um grande bem, já que seu bem é imenso. Por isso, Nossa Senhora, senhor eremita, é tão boa que é bom que dela nos lembremos, a entendamos e a amemos, é bom que roguemos por ela, além de ser bom que a vejamos e a sirvamos, a louvemos e a bendigamos, que a roguemos, e bem faz que ouçamos os louvores que a ela podem ser ditos, pois todos aqueles que dela lembram, a entendem, a amam e roguem por ela, que dela falem e louvem, e que a ela se confiem, tornam-se bons porque passam a ter a bondade em si, razão pela qual isso faz bem e faz com que se chegue à bem-aventurança eterna.[23]
Nas Cantigas de Santa Maria, o Bem é consolador, e isso porque, de acordo com o Livro de Santa Maria, o Bem tem a ação intrínseca de bem agir e, como Nossa Senhora é boa (boníssima, a mais sublime dentre todas as criaturas), bem faz a quem a ela recorre. O texto luliano, belo por seu melódico encadeamento circular, gira seu campo semântico em torno da figura da Virgem para criar no leitor a impressão de um movimento em espiral, vertiginoso. Rumo ao Bem.
Por sua vez, a justiça é dar a cada um o que lhe convém, além de reter o que a cada um o que lhe é de direito. Esse princípio de Nossa Senhora permite ao filósofo tratar da relação corpo/alma na Virgem: como seu corpo e sua alma foram unidos pela bondade, são proporcionados e ordenados, pois a justiça dá a cada parte o que lhe é correspondente. Por isso, a Virgem é justa: dá aos pecadores o que lhes convêm e o que a Justiça requer.[24] O tema desabrocha em uma pungente oração a Santa Maria, da qual traduzimos um trecho do Livro de Santa Maria (c. 1290), cap. XII:
Rainha, como vós estivestes sob a cruz e vistes que vosso Filho morria pela justiça de Deus Pai para que fosse restaurada a linhagem humana, e pela injúria dos judeus que o matavam vós choráveis pela dor, sofrimento e morte que víeis suportar, por isso, vossas lágrimas eram, rainha, justas e plenas de justiça, pois havia justiça em cada uma das lágrimas que vertíeis, pois da fonte da justiça elas saíam, isto é, do justo lembrar, entender e amar de vossa alma. E rainha, como de vosso lembrar, entender e amar saíam tão justas lágrimas, por acaso podem entrar este choro e estas lágrimas que brotam de meus olhos por causa da lembrança que recordo, do entendimento com o qual entendo e da vontade com a qual carrego o amor? E se entrar não podem, rainha, o que fará vossa justiça? Não abrirá a porta? E se a justiça fechar a porta, será justiça ou injúria o que me faz chorar, suspirar e definhar em lembrar, entender e amar a vossa honra, honraria e valor?
Vós, Virgem gloriosa, sois mais justa que o compasso, vossa justiça é misericordiosamente mais íntegra que a linha do círculo feita com o compasso, e vossa justiça encontra-se mais no centro do círculo da Bondade com a Grandeza e a Perseverança do que o centro do círculo feito com aquele mesmo compasso. Por isso, sois acusada pelos pecadores que mortal e venialmente com muitos e graves pecados pecaram.[25]
Imagem 4: A Virgem e a Criança (c. 1270-1280). Alto Reno, 128,9 x 31,7 cm, esculpida em calcário.
Nessa belíssima obra, coroada como Rainha do Céu, Maria é representada como mãe serena e carinhosa, enquanto o menino Jesus, com a cabeça inclinada de alegria, sorri. O entalhe do rosto das figuras ressalta o longo arco que se inicia nas sobrancelhas e termina no nariz, de acordo com as formas curvilíneas góticas para enfatizar a força expressiva das feições. O culto Mariano se desenvolveu paralelo a uma crescente necessidade de espiritualização da sociedade medieval. A partir do séc. XII, a Virgem é cada vez menos representada como o trono de Deus e mais como Sua mãe amorosa, zeladora do bem-estar de seu Filho (e de todos que nelas creem). É o símbolo máximo de proteção e acolhimento aos indefesos, desvalidos e pecadores.[26]
Estamos diante de uma verdadeira oração de um crente medieval à Virgem. Um comovente e sincero clamor à mãe de Deus. Podemos ter uma leve noção da devoção medieval por aquelas esculturas, modestas representações de seus sentimentos. Voltamos nossa apreciação para as imagens assim perscrutar os genuínos sentimentos dos homens do século XIII, livres dos filtros e preconceitos hodiernos. Escrita e imagem, duas práticas culturais tão centrais no cristianismo medieval,[27] podem se mesclar em uma harmoniosa hermenêutica interpretativa, método que consideramos mais apropriado para decifrar aqueles sentimentos hoje a nós tão distantes no tempo.
Imagem 5: A Virgem e o Cristo em Majestade (c. 1150-1200). Escultura em madeira, 79,5 x 31,7 x 29,2 cm, Metropolitan Museum of Art.[28]
Este tipo de escultura, com o menino Jesus sentado no colo da Virgem Maria em uma pose frontal, é denominada Sedes Sapientiae (Trono de sabedoria). Estas imagens simples transmitiam complexas ideias teológicas. Maria é o trono de Cristo, a igreja.[29] A partir dos anos 1100, Maria foi cada vez mais reverenciada como uma nutridora, educadora, misericordiosa intercessora. As esculturas, desta forma, se tornaram objetos de devoção e motivo de peregrinação. Utilizadas em procissões ou cerimônias litúrgicas. Compunham a riqueza dos santuários. Esta imagem provavelmente também servia como um relicário, já que tem duas cavidades, uma atrás do ombro da Virgem, outra no peito.[30]
Por fim, a Verdade. Na Cantiga 140, a estrofe em que surge esse (difícil) conceito circunda-o com os da lealdade, do consolo, da bondade e do socorro.[31] Claro, a verdade é leal e bondosa e, por isso, consola e socorre os justos. No Livro de Santa Maria, ela é definida como aquilo que faz com que a bondade, a grandeza, a perseverança, o poder e as demais virtudes sejam verdadeiras (isto é, reais). Um círculo retroativo. De qualquer modo, o tema serve ao filósofo catalão para lamentar a mentira que abunda no mundo no Livro de Santa Maria (c. 1290), cap. VIII:
Vós, dona qui sóts estela e alba de claredat, sabets que en lo món há més de falsetat que de veritat, car més són los hòmens descreents veritat e creents falsetat que.s hòmens qui creen veritat e descreen falsetat. Açò que jo, reina, dic és veritat, car per experiència ho sabem; e çò ésser veritat és ver que falsetat ha més en ésser contrarietat de bondat, per lo qual ver falsetat és mala veritat, la qual mala veritat faria bo convertir en bona veritat, ço és saber, que en lo món fos més de veritat que de falsetat. Per què prec la vostra veritat que meta en ver com més sai en lo món de veritat que de falsetat, car si no ho fa, reina, concordar-s’há més granea ab falsetat e malea, que ab veritat e bontat.
Vós, senhora, que sois a estrela e o alvorecer do resplendor, sabeis que no mundo há mais falsidade que verdade, pois existem mais homens que são descrentes da verdade e crentes na falsidade do que o contrário. Isso que eu digo, rainha, é verdade, pois o sei por experiência. E também é verdade que a falsidade existe mais por ser a contrariedade da bondade, o que faz com que a verdadeira falsidade seja a má verdade. Por isso, seria bom que essa má verdade se convertesse na boa verdade, isto é, para que no mundo existisse mais verdade que falsidade. Por isso, rogo à vossa verdade que faça com que a verdade exista mais no mundo que a falsidade, pois se não fizerdes isso, rainha, a grandeza concordará mais com a falsidade e a maldade do que com a verdade e a bondade.[32]
Imagem 6: Saltério de Amesbury (Inglaterra, c. 1240). Iluminura em pergaminho, 305 x 216 mm, All Souls College, Oxford.
Maria amamenta o Cristo, que delicadamente segura sua mão direita. Dois anjos com incensórios sobrevoam a cena, enquanto à esquerda, abaixo, uma freira prostrada em adoração segura um filactério que se desdobra para o alto.[33] Animais fantásticos descansam aos pés e sob o manto da Mãe de Deus. Paz no mundo. Alimentar o Filho de Deus é um dos costumeiros atributos artísticos da Virgem Maria. Imaculada (pelo contato masculino ou pelo parto), o leite da Virgem é um símbolo, tanto de sua maternidade divina quanto da humanidade de Cristo (que precisou de seu leite para crescer). Nas Cantigas de Santa Maria, o leite dos seios da Virgem é milagroso, pois cura qualquer enfermidade segundo o relato de milagre da Cantiga 93.[34]
IV. Conclusão
Tanto a Cantiga 140 das Cantigas de Santa Maria de Afonso X quanto o Livro de Santa Maria de Ramon Llull são documentos do século XIII que expressam, de um modo vigoroso e belo, comovente e sincero, autêntico e fervoroso, a profunda emoção que varreu a Europa de então com a propagação do culto mariano. Afonso de um modo artístico, Llull de um modo filosófico, ambos de um modo devocional. Como recentemente afirmou o filósofo Roger Scrutton (1944- ),[35] o Cristianismo santificou tanto o sofrimento quanto o dever do perdão e o ideal da caridade. A imagem da Virgem Maria, além de nortear a nossa visão do sexo, foi fundamental nesse processo civilizador que disciplinou as pulsões da sociedade medieval e, consequentemente, da História da Civilização Ocidental.
Imagem 7: Madona e a criança. Iluminura de um Livro de Horas alemão (Viena, Áustria, c. 1460-1465). Walters Museum MS W.764, f.13v.
Um exemplar de uma série de manuscritos encomendados na corte do imperador Frederico III da Áustria (1415-1493). A iluminura foi pintada sobre uma finíssima folha de ouro aplicada ao pergaminho. Antes da tinta secar, o artesão fez pequenas incisões na pintura com um objeto pontiagudo e o dourado resplandeceu tanto na forma de estrelas quanto na Lua sob os pés da Virgem e nas auréolas da Mãe e do Filho. Suas figuras, sagradas, irradiam luz do centro para as margens do folio. O mesmo método serviu ao artesão para desenhar flores ornamentais nas margens da folha de ouro colada sobre o pergaminho.[36] Na Imagem 50, a Virgem, embevecida, sorri para o menino Jesus, que, por sua vez, acaricia-lhe o queixo (gesto típico na arte medieval da manifestação amorosa por excelência).
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Notas:
[1] Medievalista da UFES (Universidade Federal do Espírito Santo). Site: www.ricardocosta.com
[3] BASCHET, Jérôme. A Civlização Feudal. São Paulo: Globo, 2006, p. 473; MACEDO, José Rivair. A mulher na Idade Média. São Paulo: Contexto, 1990, p. 45.
[4] The Great Taw “O Grande Aquecimento”, terceiro capítulo da série televisiva Civilisation, produzida pela BBC e apresentada por Kenneth Clarke), 1969; FOCILLON, Henri. Arte do Ocidente. A Idade Média românica e gótica. Lisboa: Editorial Estampa, 1980, p. 194-198.
[5] SCHMITT, Jean-Claude. O corpo das imagens. Ensaios sobre a cultura visual na Idade Média. Bauru, SP: EDUSC, 2007, p. 315. WILLIAMSON, Paul. Escultura gótica: 1140-1300. São Paulo: Cosac & Naify, 1998, p. 38-40.
[6] OBRAS COMPLETAS DE SAN BERNARDO DE CLARAVAL IV. Madrid: BAC, 1986, “Domingo na Oitava da Assunção”, 15; “Em louvor da Virgem Mãe”, “Homilia II”, 3, p. 419.
[7] Sl 135, 13. BÍBLIA deJerusalém. São Paulo: Paulus, 2013, p. 1005.
[8] Mt 6, 9. Ibid, p 1713. Tradução do Prof. Dr. Ricardo da Costa: Fecundae Virginis amplectitur caelum praesentiam, terra memoriam veneratur. Sic nimirum totius boni illic exhibitio, hic recordatio invenitur; ibi satietas, hic tenuis quaedam libatio primitiarum; ibi res, et hic nomem. Domine, inquit, nomen tuum in aeternum, et memoriale tuum in generatione et generationem. Generatio et generatio, nom angelorum profecto, sed hominum est. Vis scire quia nomen et memoriale eius in nobis est, praesentia in excelso? Sic orabilis, inquit: Pater noster, qui es in caelis, sanctificetur nomen tuum.
[9] COSTA, Ricardo da. “Amor e Crime, Castigo e Redenção na Glória da Cruzada de Reconquista: Afonso VIII de Castela nas batalhas de Alarcos (1195) e Las Navas de Tolosa (1212)”. In: OLIVEIRA, Marco A. M. de (org.). Guerras e Imigrações. Campo Grande: Editora da UFMS, 2004, p. 73-94. Ver em: http://www.ricardocosta.com/artigo/amor-e-crime-castigo-e-redencao-na-gloria-da-cruzada-de-reconquista-afonso-viii-de-castela. Para um resumo sobre o sentido de Guerra Santa, ver FRANCO JÚNIOR, Hilário. A Idade Média: nascimento do Ocidente. São Paulo: Brasiliense, 2004, p. 148.
[10] NETO, Jônatas Batista. História da Baixa Idade Média: 1066-1453. São Paulo: Ática, 1989, p. 122; DEL ROIO, José Luiz. Igreja medieval: a Cristandade Latina. São Paulo: Ática, 1997, p. 109.
[11] O’CALLAGHAN, Joseph F. El Rey Sabio. El reinado de Alfonso X de Castilla. Sevilla: Universidad de Sevilla, 1999, p. 173. Relato de milagre: “são textos escritos na maioria das vezes em língua vulgar e não em latim, com uma estrutura narrativa simples, mas invariavelmente com um final onde reside uma lição de vida, uma mensagem para quem lia ou ouvia”. MACEDO, op. cit., 1990, p. 46. Para o conceito de milagre ver: FRANCO JÚNIOR, op. cit., 2004, p. 140.
[12] DEL ROIO, op. cit., p. 56, nota 234.
[13] CASTRO, Bernardo Monteiro de. As Cantigas de Santa Maria: um estilo gótico na lírica ibérica medieval. Niterói – RJ: Editora da Universidade Federal Fluminense, 2006, p. 133.
[14] FRANCO JÚNIOR, op. cit., 2004, p. 111.
[15] AFONSO X, o Sábio. Cantigas de Santa Maria. Edição crítica de Walter Mettmann. V. 2. Madri: Castalia, 1988, p. 58.[16] GOZZOLI, Maria Cristina. Como reconhecer a arte gótica. São Paulo: Martins Fontes, 1986, p. 38-40.
[17] Para saber mais sobre a Sainte-Chapelle, ver em: http://sainte-chapelle.monuments-nationaux.fr.
[18] FERNÁNDEZ, Laura. “Los manuscritos de las Cantigas de Santa María: definición material de um proyecto région.” Alcanate VIII, 2012-2013, p. 79-115.
[19] LEÃO, Ângela Vaz. Cantigas de Santa Maria de Afonso X, o Sábio. São Paulo: Linear B, 2007, p. 83.
[20] O’CALLAGHAN, op. cit., 1999, p. 184.
[21] AFONSO X, op. cit., 1988, p. 115.
[22] RAMON LLULL. Obres essencials (OE). Barcelona: Editorial Selecta, 1957, vol. I, p. 1143-1242.
[23] E tan és bona nostra Dona, que Déus voll que ella mateixa faça bé a son poble e aquell bé fa per ço car és bona; car enaixí com hom ha propietat de veer per ço com ha ulls e ha propietat d’entendre per ço com ha enteniment, enaixí nostra Dona ha propietat de fer bé per ella mateixa per ço com és bona. D’on, enaixí com és inconvenient e impossible que l’hom qui ha ulls no veja pus que veu ni entena pus que entén, enaixí, e molt més encara, és impossible e inconvenient que nostra Dona no faça bé pus que és bona, e que no faça gran bé pus que son bé ha tan gran granesa; per què nostra Dona, sènyer D’Ermità, és tan bona, que és bona a membrar, entendre e amar, e bona és a veer e a servir, loar e beneir, e bona és a pregar, e bon oir fa les laors que hom ne pot dir, e tots aquelles qui la membren, entenen e l’amen e la preguen, e qui d’ella parlen e la loen, e qui en ella se confien, fa ésser bons e cascú ha bonesa en sí, per raó de la qual fa bé e ve a benanança perdurable. Ibid., p. 1160 (trad. Ricardo da Costa).
[24] Para entender um pouco sobre a função de uma imagem da Virgem (Majestas) ver em: SCHMITT, op. cit., 2007, p. 21.
[25] Reina, com vós érets sóts la creu e veïets que.l vostre fill moria per justícia de Déu lo Pare qui.n restaurava l’humà linatge, e per injúria dels jueus qui l’occeïen, adoncs vos ploràvets de la dolor e angoixa e passió e mort que li veïets sostenir; on, los vostres plors eren, reina, justs e plens de justícia, e en cadascuna de les làgremes que gitàvets era justícia, car de font de justícia eixien, ço és, del vostre just membrar, entendre e amar de vostre ànima. E, regina, pus de vostre membrar, entendre e amar tan justes làgremes ixien, ¿porien-hi entrar aquestes làgremes e aquestes plors que de mos ulls fan eixir lo membrar ab què us membre e l’enteniment ab què us entén e la volentat ab la qual vos port amor? E si entrar no hi poden, reina, què fa vostra justícia? ¿e no obre la porta? E si justícia tanca la porta, ¿és justícia o és injúria ço que.m fa plorar, sospirar e languir en membrar, entendre e amar vostra honor, honrament e valor?
Vós, verge gloriosa, sóts pus justa que compàs, e vostra justícia há major entegretat en misericórdia que línia en cercle feta ab compàs, e la vostra justícia és més centre del cercle de bontat ab granea e perseverança que centre de cercle fet ab compàs. On, per raó d’açò, reina, vos acús los pecadors qui han pecat mortalment e venial e de molts pecats e de greus... RAMON LLULL, op. cit., 1957, p. 1190-1191.
[26] RAMALLO, Gérman. Saber ver a arte românica. São Paulo: Martins Fontes, 1992, p. 54.
[27] SCHMITT, op. cit., 2007, p. 91-131.
[28] Veja a obra no site oficial do Metropolitan Museum. Disponível em: http://www.metmuseum.org.
[29] BASCHET, Jérôme. L’iconographie médiévale. França: Gallimard: 2008, p. 14.
[30] Ibid., p. 51.
[31] AFONSO X, op. cit., 1988, p. 115-15.
[32] RAMON LLULL, op. cit., 1957, p. 1180.
[33] BASCHET, op. cit., 2008, p. 90. Filactério: “pequenos pedaços de papel com versículos bíblicos, escritos de preferência em hebraico por causa do caráter mágico daquelas estranhas letras” FRANCO JÚNIOR, op. cit., 2004, p. 147.
[34] AFONSO X, op. cit., 1986, p. 286. LEÃO, Ângela Vaz. Cantigas de Santa Maria de Afonso X, o Sábio: aspectos culturais e literários. Belo Horizonte: Veredas & Cenários, 2015, p. 119.
[35] Entrevista para a Revista Vila Nova.
[36] Ver explicações mais técnicas sobre os materiais, principalmente o ouro, utilizado na produção de iluminuras em: FINGERNAGEL, Andreas; GASTGEBER, Christian. The most beautiful bibles. Köln: Taschen, 2008, p. 14.
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